Carta enviada à RHC e nunca respondida, pelo que se torna legitimo torná-la pública.
(enviada faz agora um ano)
Exma. Sra. Dra. Ana Loya
Administradora da Ray Human Capital
É certo e sabido, alvo até de vários adágios populares, que em tempo de vacas magras se alargam bastante os limites éticos e morais do comportamento humano, é “fácil falar de barriga cheia”, dir-se-á dos que se mantêm inabaláveis na sua robustez de carácter, outros ainda, dirão que “quando a miséria entra pela porta a virtude sai pela janela”.
Contudo, enquanto indivíduos, sempre encontraremos uma adequada desculpa para a desvirtude, quanto mais não seja pela via do desânimo ou do lusitano “deixa andar”, na certeza de ter como último recurso para espiar os nossos “pecados” civilizacionais, uma classe política para a qual se pode arremessar sempre com a culpa dos atrasos estruturais e sub- desenvolvimento dos lusos gentios.
Se desta forma podemos falar de comportamentos individuais, o mesmo não é aceitável em organizações que se intitulam a si próprias de “ descobridoras de talentos”, ou em instituições públicas que operam nas áreas sociais de carência.
O talento não é raro nem escasso e é um traço distintivo e proeminente da natureza humana, é comum encontrá-lo na sua forma “bruta”, ou seja, na sua forma genérica e abstracta, que nem sempre obedece às limitações éticas e morais, estando mal focado e não raras vezes pouco estruturado por competências sociais e outras, tão necessárias ao eficaz e eficiente desenvolvimento pessoal e das comunidades.
Torna-se pois evidente, que as organizações que utilizam esta matéria-prima situada entre as duas orelhas e à qual muitos chamam capital humano, na tentativa de agregar valor aos próprios indivíduos e ao tecido social e económico, revertendo para si próprias mais-valias desse processo, enquanto negócio, devem ser exemplares nas palavras e nos actos, dando cumprimento à sua missão, que em mais de 90% dos casos, é o desenvolvimento do já referido capital humano, como factor primeiro do crescimento económico e social.
Apresentadas estas breves reflexões sobre a matéria-prima usada na empresa que vossa Ex.ª. administra, passo a dar-lhe conta dos motivos que me impulsionaram para lhe dirigir esta carta.
Quero assim referir-lhe a minha apreensão, ao verificar que enquanto vossa Ex.ª escreve em fórum apropriado no jornal Expresso, (caderno de emprego na rubrica Barómetro RH), investida de uma irrepreensível legitimidade editorial, um colaborador seu, ou da RHC, se preferir, produziu ou anuiu a que se produzisse, no caderno “Primeiro Emprego, integrante da edição do Correio da Manhã de 07 de Dezembro do corrente, uma peça jornalística, merecedora de algumas chamadas de atenção e perguntas que carecem de resposta adequada.
Nada de estranho nem de anormal se verificaria, não fosse o referido caderno um veículo de divulgação das ofertas de emprego disponíveis na rede de centros da responsabilidade do IEFP, Instituto do Emprego e Formação Profissional, constituindo algumas das ideias veiculadas na referida peça, um verdadeiro insulto à inteligência e dignidade das pessoas em situação de desemprego que consultem eventualmente o referido caderno.
Como com certeza será do seu conhecimento, e segundo dados do próprio IEFP, citados no Diário de Notícias de 23 de Novembro do corrente, “Os postos de trabalho disponíveis nos centros de emprego “oferecem” um salário de base médio que é 39% inferior ao ordenado médio praticado no País.”, Ainda no mesmo jornal diz-se que “ os empregadores apenas recorrem aos centros de emprego como último recurso.” E ainda diz que “O baixo valor salarial proposto também confirma que são sobretudo postos de trabalho pouco qualificados que estão disponíveis nos centros de emprego.”
É fácil, perante estes factos, verificar que não é este o segmento de operação da Ray Human Capital, pois representa uma fraca “coutada” para caçar talentos. Atendendo aos números e às declarações do responsável da RHC, os 230 talentos colocados em 2007 pela sua prestigiada empresa, não estavam concerteza contidos no universo de inscritos nos centros de emprego, ou mesmo a receber subsídio de desemprego, mas a ser verdade que pudessem ter estado, seriam 0,000.....1 % do volume de desempregados em Portugal.
Apesar do ranger de dentes, não vou arriscar qualquer adjectivação para caracterizar a referida peça jornalística em apreço, ela fala por si, direi antes, grita por si, mas perturba-me o facto de não saber se estamos perante um acto louvável de pura filantropia, quer por parte do Correio da Manhã ou da própria RHC, permitindo ao IEFP fazer a referida divulgação das oportunidades de emprego a custo zero, pois se assim não for, e, na hipótese do referido caderno ser pago com os dinheiros públicos do IEFP, estamos perante uma anacrónica parceria.
Gostaria agora de lembrar o último parágrafo da crónica que vossa Ex.ª escreveu no Expresso de 1 de Dezembro do corrente, em que diz entre outras coisas, “é preciso coragem da parte de quem manda!”, como verifica, é fácil arremessar à classe política “mandante” com o pecado da falta de mobilização da sociedade civil e respectiva falta de cidadania organizacional, de quem se encontra em posições empresariais de consultoria, com bons privilégios de acesso ao poder.
Podemos sempre pensar, sem ferir de morte a ciência política, num sistema de terciarização do governo, onde as empresas de executive search podem sempre “caçar” os talentos para “mandar”, pois os talentos adequados para “governar”, esses serão sempre, desejavelmente gerados em democracia, por voto popular, ainda que em ambiente neoliberal de inspiração meritocrática.
Mas convenhamos que a “entrevista” teve os seus méritos, quanto mais não seja pela frontalidade em assumir que uma das fontes, a principal fonte digo eu, de quem recruta no segmento dos top performers, é a bolsa de “talentos que já exercem noutras empresas”, actividade essa, ficámos a saber “é profundamente confidencial e envolta num certo charme”.
Regozijei-me no pensamento que “ Aos 35 anos não se é desesperadamente um caso perdido”, fiquei no entanto convicto que é acessório e jornalismo “rosa light” ficarmos a saber “dos gabinetes onde os passos são abafados pela lã dos longos tapetes de Arraiolos.”
Agora ponham-se os pontos nos is e alinhemos os factos com as ideias:
É facto que não me diz respeito absolutamente nenhum, em que jornais e como se posicionam, escrevem e se exibem os colaboradores da Ray Human Capital.
É facto que não me diz respeito absolutamente nenhum, a forma como o Correio da Manhã ou o Expresso, fazem a sua política editorial.
É facto que não me diz respeito absolutamente nenhum, a forma como um jornal privado como o Correio da Manhã se financia.
É facto e diz-me respeito, a forma como as instituições públicas se comportam na imprensa e a forma como gastam o dinheiro dos contribuintes.
É facto que a “entrevista” ou “peça jornalística” produzida e/ou autorizada pelo colaborador da RHC, pelo teor das suas “declarações ou comentários”, no mesmo caderno em que o IEFP publica oportunidades de emprego, pelos factos já elencados no parágrafo nono, não se adequa nem revela uma atitude socialmente responsável face ao objectivo do referido caderno.
Agora em conclusão, acreditando que a Ray Human Capital e os seus colaboradores perseguem objectivos de excelência e melhoria contínua, ao traçar a sua estratégia de crescimento económico e de valor, bem como a sua estratégia de responsabilização social, enquanto empresa actuante no partenariado do capital humano, deixo-lhes o convite para que se desloquem por uma vez que seja, a um centro de emprego da periferia.
Terão a grata experiência do contacto com o País profundo e real, como bónus, caros drs, se tiverem a possibilidade de entrevistar algumas das pessoas que por ali passam, para a “apresentação quinzenal” ou inscrição, terão a verdadeira lição sobre coragem, resiliência, responsabilidade social, talento, angústia, medo, etc.
Pegando mais uma vez nas suas palavras no Expresso de 1 de Dezembro, por favor façam na RHC um “refresh” do vosso mind set, e como disse o professor Freitas do Amaral na sua última lição “ Recomendo-lhes que não venham para cá sem antes relerem a Républica de Platão, a Política de Aristóteles e o 2º Tratado de John Locke: está lá practicamente tudo.”
Eu humildemente acrescento: o resto está entre Darwin e Damásio, entre Santo Agostinho e S. Tomás de Aquino.
Espero agora com sinceridade, que alguns milhares de pessoas, sensibilizados e inspirados com a leitura do artigo do seu talentoso colaborador, se sintam com um desejo irreprimível e com a responsabilidade de depositar um curriculum vitae no sapatinho da HRC, de cuja chaminé sairá decerto fumo branco, para poder-mos perguntar:
Habemus Talentu?
Sem mais
Sinceros votos de um feliz Natal e Próspero Ano Novo para todos os colaboradores da
Ray Human Capital
Atentamente
José Manuel Carvalho
P.S. Tenham coragem!
A coragem não é um acto isolado, um impulso momentâneo. É uma acção completa e complexa que deve ser perseguida até ao seu objectivo final. Os maiores esforços não são os do início, mas os necessários, depois, para resistirmos às nossas fraquezas e aos obstáculos imprevistos que devemos enfrentar com paciência e sagacidade. A coragem não é só a virtude do começo, mas sim da prossecução, da conclusão e da clarividência.
FRANCESCO ALBERONI
(enviada faz agora um ano)
Exma. Sra. Dra. Ana Loya
Administradora da Ray Human Capital
É certo e sabido, alvo até de vários adágios populares, que em tempo de vacas magras se alargam bastante os limites éticos e morais do comportamento humano, é “fácil falar de barriga cheia”, dir-se-á dos que se mantêm inabaláveis na sua robustez de carácter, outros ainda, dirão que “quando a miséria entra pela porta a virtude sai pela janela”.
Contudo, enquanto indivíduos, sempre encontraremos uma adequada desculpa para a desvirtude, quanto mais não seja pela via do desânimo ou do lusitano “deixa andar”, na certeza de ter como último recurso para espiar os nossos “pecados” civilizacionais, uma classe política para a qual se pode arremessar sempre com a culpa dos atrasos estruturais e sub- desenvolvimento dos lusos gentios.
Se desta forma podemos falar de comportamentos individuais, o mesmo não é aceitável em organizações que se intitulam a si próprias de “ descobridoras de talentos”, ou em instituições públicas que operam nas áreas sociais de carência.
O talento não é raro nem escasso e é um traço distintivo e proeminente da natureza humana, é comum encontrá-lo na sua forma “bruta”, ou seja, na sua forma genérica e abstracta, que nem sempre obedece às limitações éticas e morais, estando mal focado e não raras vezes pouco estruturado por competências sociais e outras, tão necessárias ao eficaz e eficiente desenvolvimento pessoal e das comunidades.
Torna-se pois evidente, que as organizações que utilizam esta matéria-prima situada entre as duas orelhas e à qual muitos chamam capital humano, na tentativa de agregar valor aos próprios indivíduos e ao tecido social e económico, revertendo para si próprias mais-valias desse processo, enquanto negócio, devem ser exemplares nas palavras e nos actos, dando cumprimento à sua missão, que em mais de 90% dos casos, é o desenvolvimento do já referido capital humano, como factor primeiro do crescimento económico e social.
Apresentadas estas breves reflexões sobre a matéria-prima usada na empresa que vossa Ex.ª. administra, passo a dar-lhe conta dos motivos que me impulsionaram para lhe dirigir esta carta.
Quero assim referir-lhe a minha apreensão, ao verificar que enquanto vossa Ex.ª escreve em fórum apropriado no jornal Expresso, (caderno de emprego na rubrica Barómetro RH), investida de uma irrepreensível legitimidade editorial, um colaborador seu, ou da RHC, se preferir, produziu ou anuiu a que se produzisse, no caderno “Primeiro Emprego, integrante da edição do Correio da Manhã de 07 de Dezembro do corrente, uma peça jornalística, merecedora de algumas chamadas de atenção e perguntas que carecem de resposta adequada.
Nada de estranho nem de anormal se verificaria, não fosse o referido caderno um veículo de divulgação das ofertas de emprego disponíveis na rede de centros da responsabilidade do IEFP, Instituto do Emprego e Formação Profissional, constituindo algumas das ideias veiculadas na referida peça, um verdadeiro insulto à inteligência e dignidade das pessoas em situação de desemprego que consultem eventualmente o referido caderno.
Como com certeza será do seu conhecimento, e segundo dados do próprio IEFP, citados no Diário de Notícias de 23 de Novembro do corrente, “Os postos de trabalho disponíveis nos centros de emprego “oferecem” um salário de base médio que é 39% inferior ao ordenado médio praticado no País.”, Ainda no mesmo jornal diz-se que “ os empregadores apenas recorrem aos centros de emprego como último recurso.” E ainda diz que “O baixo valor salarial proposto também confirma que são sobretudo postos de trabalho pouco qualificados que estão disponíveis nos centros de emprego.”
É fácil, perante estes factos, verificar que não é este o segmento de operação da Ray Human Capital, pois representa uma fraca “coutada” para caçar talentos. Atendendo aos números e às declarações do responsável da RHC, os 230 talentos colocados em 2007 pela sua prestigiada empresa, não estavam concerteza contidos no universo de inscritos nos centros de emprego, ou mesmo a receber subsídio de desemprego, mas a ser verdade que pudessem ter estado, seriam 0,000.....1 % do volume de desempregados em Portugal.
Apesar do ranger de dentes, não vou arriscar qualquer adjectivação para caracterizar a referida peça jornalística em apreço, ela fala por si, direi antes, grita por si, mas perturba-me o facto de não saber se estamos perante um acto louvável de pura filantropia, quer por parte do Correio da Manhã ou da própria RHC, permitindo ao IEFP fazer a referida divulgação das oportunidades de emprego a custo zero, pois se assim não for, e, na hipótese do referido caderno ser pago com os dinheiros públicos do IEFP, estamos perante uma anacrónica parceria.
Gostaria agora de lembrar o último parágrafo da crónica que vossa Ex.ª escreveu no Expresso de 1 de Dezembro do corrente, em que diz entre outras coisas, “é preciso coragem da parte de quem manda!”, como verifica, é fácil arremessar à classe política “mandante” com o pecado da falta de mobilização da sociedade civil e respectiva falta de cidadania organizacional, de quem se encontra em posições empresariais de consultoria, com bons privilégios de acesso ao poder.
Podemos sempre pensar, sem ferir de morte a ciência política, num sistema de terciarização do governo, onde as empresas de executive search podem sempre “caçar” os talentos para “mandar”, pois os talentos adequados para “governar”, esses serão sempre, desejavelmente gerados em democracia, por voto popular, ainda que em ambiente neoliberal de inspiração meritocrática.
Mas convenhamos que a “entrevista” teve os seus méritos, quanto mais não seja pela frontalidade em assumir que uma das fontes, a principal fonte digo eu, de quem recruta no segmento dos top performers, é a bolsa de “talentos que já exercem noutras empresas”, actividade essa, ficámos a saber “é profundamente confidencial e envolta num certo charme”.
Regozijei-me no pensamento que “ Aos 35 anos não se é desesperadamente um caso perdido”, fiquei no entanto convicto que é acessório e jornalismo “rosa light” ficarmos a saber “dos gabinetes onde os passos são abafados pela lã dos longos tapetes de Arraiolos.”
Agora ponham-se os pontos nos is e alinhemos os factos com as ideias:
É facto que não me diz respeito absolutamente nenhum, em que jornais e como se posicionam, escrevem e se exibem os colaboradores da Ray Human Capital.
É facto que não me diz respeito absolutamente nenhum, a forma como o Correio da Manhã ou o Expresso, fazem a sua política editorial.
É facto que não me diz respeito absolutamente nenhum, a forma como um jornal privado como o Correio da Manhã se financia.
É facto e diz-me respeito, a forma como as instituições públicas se comportam na imprensa e a forma como gastam o dinheiro dos contribuintes.
É facto que a “entrevista” ou “peça jornalística” produzida e/ou autorizada pelo colaborador da RHC, pelo teor das suas “declarações ou comentários”, no mesmo caderno em que o IEFP publica oportunidades de emprego, pelos factos já elencados no parágrafo nono, não se adequa nem revela uma atitude socialmente responsável face ao objectivo do referido caderno.
Agora em conclusão, acreditando que a Ray Human Capital e os seus colaboradores perseguem objectivos de excelência e melhoria contínua, ao traçar a sua estratégia de crescimento económico e de valor, bem como a sua estratégia de responsabilização social, enquanto empresa actuante no partenariado do capital humano, deixo-lhes o convite para que se desloquem por uma vez que seja, a um centro de emprego da periferia.
Terão a grata experiência do contacto com o País profundo e real, como bónus, caros drs, se tiverem a possibilidade de entrevistar algumas das pessoas que por ali passam, para a “apresentação quinzenal” ou inscrição, terão a verdadeira lição sobre coragem, resiliência, responsabilidade social, talento, angústia, medo, etc.
Pegando mais uma vez nas suas palavras no Expresso de 1 de Dezembro, por favor façam na RHC um “refresh” do vosso mind set, e como disse o professor Freitas do Amaral na sua última lição “ Recomendo-lhes que não venham para cá sem antes relerem a Républica de Platão, a Política de Aristóteles e o 2º Tratado de John Locke: está lá practicamente tudo.”
Eu humildemente acrescento: o resto está entre Darwin e Damásio, entre Santo Agostinho e S. Tomás de Aquino.
Espero agora com sinceridade, que alguns milhares de pessoas, sensibilizados e inspirados com a leitura do artigo do seu talentoso colaborador, se sintam com um desejo irreprimível e com a responsabilidade de depositar um curriculum vitae no sapatinho da HRC, de cuja chaminé sairá decerto fumo branco, para poder-mos perguntar:
Habemus Talentu?
Sem mais
Sinceros votos de um feliz Natal e Próspero Ano Novo para todos os colaboradores da
Ray Human Capital
Atentamente
José Manuel Carvalho
P.S. Tenham coragem!
A coragem não é um acto isolado, um impulso momentâneo. É uma acção completa e complexa que deve ser perseguida até ao seu objectivo final. Os maiores esforços não são os do início, mas os necessários, depois, para resistirmos às nossas fraquezas e aos obstáculos imprevistos que devemos enfrentar com paciência e sagacidade. A coragem não é só a virtude do começo, mas sim da prossecução, da conclusão e da clarividência.
FRANCESCO ALBERONI